1 de dez. de 2015

Estado implanta ensino com escolas sem aulas
Os 550 alunos do projeto piloto não terão aulas. Conteúdos obrigatórios serão ministrados com pesquisas


A Secretaria Estadual de Educação irá implantar um novo modelo de ensino médio em duas escolas da rede, a partir de 2016. Com características inovadoras, os professores irão focar na aprendizagem efetiva. 

Os 550 alunos que serão beneficiados não terão aulas e os conteúdos obrigatórios serão ministrados por meio de pesquisas. Por enquanto, a mudança será em caráter piloto e poderá ser estendida às demais unidades a partir de 2017 se der certo.

Para tornar o projeto possível, o governo conta com a ajuda de Pedro Demo, filósofo doutor em sociologia que pesquisa principalmente a questão do processo ensino-aprendizagem e faz duras críticas ao modelo de educação do país.

“Nós não temos um sistema de aprendizagem. Esse sistema de ensino não funciona, o estranho é que o MEC continua apostando nisso. Os números gritam que não presta, mas continuam fazendo a mesma coisa. Criamos um Plano Nacional e Educação para cuidar desse defunto”, afirma.

Segundo ele, atualmente a formação dos estudantes é centrada no conjunto aula-prova e o aprendizado fica para trás. Pesquisas mostram que em Mato Grosso do Sul, somente 8% dos que concluem o ensino médio realmente aprenderam matemática, por exemplo.

“Essas pessoas que chegam ao fim do ensino médio e não sabem praticamente nada, tiveram todas as aulas, viram todo o conteúdo, fizeram todas as provas, só não aprenderam”, pontua Demo.

A solução, segundo o pesquisador, está na valorização dos professores. “Está faltando professor mais bem preparado e muito mais bem pago. Mas isto eu não consigo mudar, salário não é do meu departamento, mas eu consigo influir na formação dele. Professor que aprende melhor e não fica só dando aulinha, repassando conteúdo, fazendo provinha, mas que aprende bem para ter um bom aprendizagem e para levar ao estudante alguma experiência boa de aprendizado”, explica.

Demo afirma ainda que a origem do problema está dentro das universidades, quando muitos cursos de licenciatura adotam os mesmos modelos do ensino básico. “Nós temos que corrigir uma coisa que a universidade não faz bem, um pedagogo e um licenciado muito mal formados. A universidade também é um local onde só se ensina, não se aprende”, relata.

A ideia de uma escola sem aulas não é nova. Portugal tem um exemplo com a Escola da Ponte, em São Tomé de Negrelos, cujo modelo foi adaptado já em alguns estados do Brasil. Demo aponta que no interior paulista tem bons exemplos desse formato de ensino, que ainda é bastante novo no país.

“Essas escolas vão fazer completamente diferente. Em vez de pegar o currículo e transformarem em aula, vão pegar o currículo e transformar em pesquisa. A escola tem que se transformar em uma comunidade científica, que produza conhecimento”, relata.

MUDANÇA CORAJOSA
A coordenadora do grupo de estudos da Superintendência de Políticas Educacionais da Secetaria Estadual de Educação, Maria Sakate, explica que as duas escolas beneficiadas serão a Waldemir Barros da Silva, da Vila Moreninha I, e Manoel Bonifácio Nunes da Cunha, do Jardim Tarumã, ambas em campo Grande.

Essas duas unidades só oferecem ensino médio. Dessa forma, os alunos novos, que estão sendo matriculados no primeiro ano, já vão começar direto no novo sistema. A equipe da secretaria começou a conversar em setembro com os pais dos alunos antigos e nenhum deles foi obrigado a aderir ao modelo e aqueles que o aceitaram assinaram um termo.

Maria não soube dizer qual foi o investimento financeiro para que essas duas escolas fossem adaptadas ao ensino integral, como refeitórios, etc.

Serão responsáveis por orientar os alunos durante a pesquisa 16 professores, que estão sendo capacitados.

VONTADE DE APRENDER
A estudante Isadora Marques, 15 anos, é aluna da escola Waldemir de Barros e ficou com vontade de estudar nesse novo modelo, mas alguns alunos da turma dela não quiseram e não foi possível fechar turma.

Segundo ela, a comunidade escolar está bastante ansiosa pelo início do projeto. Isadora diz que já passa o dia inteiro na escola porque faz o ensino médio integrado com cursos técnicos pelo Pronatec.

Fonte: Redação: Edílson Oliveira
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